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terça-feira, 8 de junho de 2010

# narizinho cheio de personalidade

ontem...
ontem sem querer cheguei à conclusão que não te conheci. 
porque não quiseste viver comigo?
porque foste embora sem me dizer? sem me avisar.
já não me visitas nos sonhos.
a (tua) velha marca de tabaco já não existe, era o único cheiro que me ligava a ti.
sinto que não sei nada de ti.
não sei se foste para a guerra, não sei a tua cor preferida. seria o vermelho? eras benfiquista ferrenho. e a tua comida preferida? algo com queijo? adoravas queijo. lembro-me de te ver a comer queijo.
como era a tua vida quando eras pequenino? jantaste alguma vez lá em casa? brincaste comigo quando eu era criança? nasceste mesmo lá na terra, ou tal como a Mãe eras de outro ponto do país?
sabes o orgulho que tenho em ti? sabes como sempre te defendi?
sempre acreditei que me deste a conhecer o melhor de ti no tempo que te foi permitido, mas... nem uma fotografia tua tenho. não temos uma fotografia juntos. no entanto, sei de cor os traços do teu rosto, o teu sorriso. a tua pele morena, o teu cabelo grisalho (que a quimio fez desaparecer), as rugas. as rugas que guardavam a história da tua vida. 
lembro-me de quando ias lá casa, sempre à noite, te perguntar se isso na cara doía; só mais tarde quando já era capaz de perceber as coisas a Mãe me explicou que eram as linhas da tua história. nunca passeaste comigo de mão dada, passeaste? 
lembro-me de quando assinaste a minha ficha da escola. o orgulho que eu tive em dizer à professora que tinha sido o meu Pai a assinar. o Meu Pai. é estranho, desde que foste embora que evito falar de ti. sabes porquê? por causa da Mãe, ela sofreu muito também e não a quero preocupar. mas tu sabes que ainda choro por ti. nunca vou deixar.
pai, podemos recuar quase 6 anos atrás?
todos os dias ia-te visitar e sentava-mo-nos nas escadas lá do hospital a conversar, e tu acendias o cigarro. esse maldito vicio que te levou para longe de mim. eu tinha 17 anos e adorava quando me contavas as amizades que tinhas feito no hospital, sentia-me tão especial quando me dizias que estiveste a jogar xadrez para o tempo passar mais depressa e estares comigo. disseste que lamentavas ter ficado 3 anos sem me dizeres nada, e de teres desaparecido da minha vida.
hoje percebi que foste o primeiro Homem que amei, porque perdoei a tua ausência e esqueci-a. sempre foste, para mim, o Pai mais perfeito que alguém poderia ter. não questionei nenhuma das tuas decisões.
mas agora está a doer, dói sempre mais nesta altura... 
aproxima-se o dia em partiste para uma viagem sem volta e não me perguntaste. mal conseguiste olhar, e mais uma vez fiquei sem saber o que estavas a sentir.
mas Pai, não fiques triste. 
És o Melhor Pai do Mundo. 
se fosses vivo terias exactamente 71 anos e tenho a certeza que apesar dos 48 anos que nos separariam continuarias a tentar perceber-me qual jovem adulta, e me sorririas.
Pai, posso pedir-te uma coisa?
vem visitar-me hoje. 
enquanto durmo sussurra-me ao ouvido que não somos estranhos. tu conheces-me, eu sei. tenho a certeza porra!!! 
hoje Pai, hoje preciso (muito) que me protejas do outro homem que (amo) amei.
não partas hoje, por favor.

3 comentários:

Sílvia disse...

Este texto emocionou-me imenso. O amor que temos pelos nossos pais é algo de muito forte :)

Cisne disse...

Muito bonito, gostei de ler.


Cisne.

Anónimo disse...

Olá Yin,
Olá Cisne,

agradeço as palavras.
o amor que tenho pelo pai, é incondicional... não esteve presente, mas quando esteve deu-me o melhor de si. e isso eu guardo com muito amor.

beijinho

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